terça-feira, 27 de janeiro de 2009

O meu "Eu" descrito por Fernando Alvim

...gosto de falar como os bébés, com o homem que eu amo, não gosto de conversas infantis. Gosto que me sirvam a realidade nua e crua. Não gosto de “sushi”.
Gosto de provocar e de não ser consensual, não gosto que digam mal de mim e muito menos dos meus amigos. Gosto do cheiro a livros novos e do ermo perfume das casas velhas. Não suporto mentira, a pobreza de espiríto. Não gosto de fundamentalismos, mas de opiniões fundamentadas. Não desgosto de ser como sou, de me deitar tarde e adormecer com a televisão ligada, detesto, desculpem, não gosto, de dormir com os pés de fora e de acordar com a buzina de um carro que eu não conheço, gosto de ti, de tu, de pessoas que choram de alegria. Não gosto de ver quem chore por tristeza. Gosto de viajar, mais por linhas, menos por estrada, tendo o céu como limite. Deprimem-me os Domingos, fico feliz com as Sextas. Não gosto de carne mal passada. Gosto de dias bem passados, de camas quentes com trovões lá fora e um bom livro para ler cá dentro, de finais de tarde a morrerem lentamente na areia húmida, do teu olhar a apagar-se. Gosto de ouvir passos na escuridão do silêncio. Não gosto que me encontrem, gosto que me procurem. Não gosto do “assim-assim” do “mais ou menos” e do traiçoeiro “talvez”, gosto do “sim e do não”, do “de certeza” e do “nem pensar”. Não gosto de gostar muito, gosto de amar muito.
[Fernando Alvim]

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